Uma Breve Apresentação

(O Que Aconteceu Com a Assembléia de Deus na Bahia - Parte II)

Quero expor, em linhas gerais, a minha vida assembleiana. Meu desejo é que o leitor tenha uma visão abrangente do ambiente em que cresci, possibilitando uma melhor compreensão das críticas aqui expostas.
Aquela velha idéia de ser crente por ser filho de crente, em mim, não vingou. Fui crescendo sendo levado pelos meus pais aos cultos na Assembléia de Deus em Terra Nova (interior) e Liberdade, Mata Escura, Capelinha, Fazenda Grande (em Salvador), dentre outras. Porém, a inquietude natural da adolescência fez-me afastar ou, pelo menos, não me comprometer.
            Lembro-me da época em que congregávamos no Templo da Liberdade. Tenho boas lembranças do ambiente saudável que desfrutávamos há uns trinta (30) anos atrás. Lembro-me de que tratavam-nos como filhos, não como membros dizimistas. Todavia, o que mais me marcou foram os semblantes dos meus pais e irmãs chegando do culto. Que espetáculo!
A chegada de meus pais e irmãs em casa, após um culto na Assembléia de Deus em Capelinha de São Caetano, era algo que falava mais que mil palavras. Minha alma sentia o impacto de espíritos felizes. Chegavam animados, alegres e “leves”. Eu, com meus 14/15 anos, percebia nitidamente a leveza de suas almas, e desejei aquela vida e aquele brilho em mim.
Foi com essa lembrança que alimentei a convicção de que, em me tornando, efetivamente, cristão, seria na Assembléia de Deus que desenvolveria minha vida espiritual. Talvez, inconscientemente, ligava os semblantes dos entes queridos a algum milagre da denominação. Imaginava que era fruto do ambiente saudável da igreja e, consequentemente, da compreensão do evangelho de Cristo, seu ensino e sua prática, por parte, principalmente, dos clérigos assembleianos.
Foi assim que, com dezesseis anos, resolvi me “intrometer” no meio dos “crentes”. Alimentei sonhos e aqueci a fé. Acreditei que a igreja era o milênio antecipado, onde as mazelas humanas estavam sob controle, apesar de ainda existirem no âmago de cada um. Acreditei que o teocentrismo era possível, e existia, de fato, na igreja. Durou pouco...
No início, fui constatando que o ambiente não era tão salutar como parecia estampado nos semblantes dos meus pais e irmãs. Todavia, conscientemente, compreendi que as pessoas más estavam infiltradas entre as boas (trigo e o joio) e, desta forma, fui rompendo com o sonho antigo e convivendo com a dura realidade das más companhias na igreja.
Apesar disso, abracei a causa, segreguei ambição e oportunidades seculares, mergulhei com “corpo, alma e espírito” no rio da “chamada” pessoal e da capacidade divina em mim para o labor evangélico. Tocar, cantar, reger, secretariar, coordenar, liderar, orar, estudar, ensinar, evangelizar, enfim, desempenhar com denodo os trabalhos confiados, independente dos sacrifícios e renúncias exigidas. Era no que acreditava e, apesar do primeiro impacto negativo, nada seria capaz de afastar do meu íntimo, a chama pela realização do trabalho em favor do Corpo (a Igreja é considerada pela Bíblia, Corpo de Cristo).
Esta forma de ser e agir, fazia com que os líderes percebessem a possibilidade e viabilidade de uma carreira ministerial para mim. No entanto, tendo assimilado o exemplo de Cristo que, sendo Deus, se aniquilou como homem, adotei a postura de, ainda que fosse visível o potencial para desenvolvimento de carreira ministerial, fugia dela como o “diabo foge da cruz.” Não como afronta ou desonra, mas, como reconhecimento das minhas fragilidades pessoais. Entendia ser, o cargo ministerial, chamada para uns “poucos escolhidos”.
Lembrava do meu pai, ainda morando no interior do estado, saindo de nossa residência para ir à igreja que distava a quilômetros de nossa casa, à noite, no escuro, andando, apenas para levar um pouco de alimento espiritual aos irmãos. Vi sua luta atuando como pedreiro na construção da igreja em Terra Nova, à noite, porque, pela manhã, tinha que sair para trabalhar secularmente a fim de ter como sustentar sua família.
Lembrava-me dos antigos pastores, cuja sinceridade, dedicação, resignação, autoridade e coragem eram marcantes. Pastores que priorizavam pessoas ao invés de organização, que priorizavam evangelismo ao invés de reuniões, homens que encaravam seu ministério com responsabilidade e temor a Deus e, incansavelmente, fazendo chuva ou sol, subiam e desciam para levar a preciosa semente, ainda que fosse necessário andar e chorar. Homens que sabiam o valor da carreira ministerial, e por isto, não aceitavam substituí-la por qualquer carreira política. Não trocavam a bênção da primogenitura por prato de lentilha.
Como poderia eu, limitado, fraco e covarde, figurar como companheiro ministerial de paradigmas destes? Como poderia encarar trabalhos que estavam muito além da minha capacidade para cumprir? Mesmo com lapso de tempo, temia e tremia, por isso, fugia.
No decorrer da minha vida espiritual e congregacional, tive maravilhosas oportunidades que a igreja me pôde proporcionar. Encontrei gente interessada no crescimento da causa do Mestre, impulsionados pelo amor altruísta e dispostos a doarem-se em projetos de altíssima qualidade, apesar dos sacrifícios exigidos. Dentre esses projetos, posso destacar:
Júbilo dos Fiéis”, transformado, posteriormente, em “Banda Missões”, conjunto eletrônico que se empenhava na evangelização;
COSS – Coral e Orquestra Sinfonia de Salmos”, protótipo de um sonho, já que o desejo era ver surgir em plena terra do axé-music, uma Orquestra Sinfônica Evangélica (este grupo preocupava-se com a qualidade musical de nossas canções, conjugando, paralelamente, educação musical, apoio social e amparo missionário);
GCM – Grande Coral da Mocidade, coral organizado para atuação em nossos congressos de jovens que, anualmente, era realizado pela igreja. O sucesso era tão grande que, no auge, chegou a ter cerca de mil (1.000) vozes, diga-se de passagem, jovens. Além da participação em nossos congressos, éramos convidados a atuar nas convenções estaduais e em congressos realizados em outras cidades / estados;
Jovens Libertos Por Cristo, da igreja na Liberdade, que não cheguei a integrá-lo, mas, participei de trabalhos evangelísticos desenvolvidos por eles no Campo Grande, Terreiro de Jesus, visitas em hospitais, dentre outras atividades;
Mocidade Para Cristo, da igreja em Capelinha, que não media esforços no sentido de proclamar as boas novas do evangelho nas praças e vielas do bairro, como outros tantos grupos que de norte a sul da cidade encaravam a missão como “sua missão” e não como missão do “outro”.
Com a intensa participação nas atividades-fins da igreja como, evangelismos, missões, apoio social (lembram do total envolvimento da igreja na “festa do quilo”?) e educação cristã, não nos restava tempo para as mazelas. Era o velho ditado popular: “quando se trabalha, não se dá trabalho”.
Além do mais, sentia-me integrado a uma comunidade de gente que possuía, sim, dificuldades, problemas, aflições e fraquezas, no entanto, naquele tempo, via-se a disposição de integrar, ajudar, corrigir quando necessário e, em todo tempo, edificar uns aos outros. Sentia confiança ao perceber que nosso líder era conhecido, presente, haja vista que, em toda atividade da igreja, ele estava à frente, liderando, orientando, cuidando e apoiando.
Ah! Tempo bom. Saudosismo? Sim, senhor. E daí? Trocaría, sem pestanejar, o tempo presente da Assembleia de Deus pelo tempo passado.

(Continua...)

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