Comandados Por Neófitos Soberbos e Sem Deus

Neófito é o principiante, alguém que começou recentemente em algo ou está em algum lugar pela primeira vez. Em sua etimologia, a palavra neófito surge da junção dos termos gregos neo, que significa novo, e phytos, que é planta. A palavra grega neophytus corresponde ao que foi recentemente plantado, e é na Idade Média que a palavra vai ser relacionada àquele que é iniciante em alguma atividade. Primeiramente ligada à figura do cristão-novo, alguém recém convertido ao cristianismo.

Neófito na Bíblia refere-se àquele que foi convertido ao cristianismo a pouco tempo. Alguns definem este tempo como sendo de, pelo menos, três anos. Já aquele que está efetivamente convertido há mais tempo é chamado de prosélito. Na língua portuguesa atual utiliza-se o substantivo proselitismo, que tem a mesma raiz que prosélito, para designar conversão doutrinária.

Em resumo, neófito é aquele que está no processo inicial de conversão, enquanto que prosélito é o já convertido.

O quanto exposto serve como pano de fundo para nossa abordagem sobre as atuais instituições religiosas e seus respectivos líderes. Neste contexto, focamos não apenas o comando central, mas também, o corpo de obreiros situados na escala hierárquica logo abaixo do clero central. São homens e mulheres que, aparentando manifestação de dons (liderança, eloquência, simpatia, carisma, etc.), são separados para desempenhar algum papel de liderança-auxiliar em departamentos.

Muitas das nossas instituições religiosas vivem hoje mergulhadas em crises administrativas e espirituais, e nós, nos debruçamos para tentar compreender a origem desses problemas e quais caminhos poderíamos seguir para solucioná-los.

Alguns dizem que estamos caminhando mal por termos nos afastado da vida de oração que tão intensamente nos dedicávamos no passado. Não concordo com esta afirmativa por uma razão lógica muito simples. Se a volta para uma vida de oração é a solução para os problemas que enfrentamos, porque nos afastamos desta vida de oração do passado? Lógico. Se a vida de oração é a solução no presente, ela (a vida de oração) não nos teria permitido afastarmos no passado. Diga-se ainda que, posso orar em todo tempo e, ao mesmo tempo, praticar tudo que a Bíblia condena sem nem mesmo “corar a face”. Exemplos é que não faltam.

Outros (aqui me incluo) alegam que o motivo dos problemas no presente é fruto da decisão deliberada de afastamento das recomendações bíblicas sobre como gerenciar comunidades cristãs e como separarmos pessoas para o trabalho de liderança nessas comunidades.


É a recomendação bíblica enfática: “Esta afirmação é digna de confiança: se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. (...) Não pode ser recém-convertido [neófito], para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o diabo” (1 Tm. 3:1,6). Paulo menciona que o desejo de servir no reino de Deus é um sentimento genuíno, legítimo, porém, deve ser evitado expor o neófito numa função de liderança, em razão da sua fragilidade espiritual. A alegação de Paulo é que, em sua imaturidade, o neófito pode ser facilmente enganado pelo “glamour” do cargo de liderança, fazendo-o acreditar que não há outro igual a ele e com capacidades melhores que a dele para exercer a liderança do grupo. Resultado? Soberba, conspiração, atritos e queda.

O texto do apóstolo João, em sua primeira epístola, capítulo 5, verso 19, diz que o “mundo jaz no maligno”. Traduzo este trecho do texto sagrado não apenas como “um mundo sob o poder do diabo e demônios”, mas, também, como “um mundo onde as pessoas, deliberadamente, escolhem o que é mau e/ou errado”.

O que temos hoje, como modelo de gerenciamento das comunidades cristãs, é o conceito de “empresas-holding”. Aquelas que nada produzem e extraem seus sustentos através do controle de empresas menores, denominadas de “subsidiárias”. Todo o trabalho é desenvolvido por essas pequenas empresas, enquanto que o gerenciamento dos recursos fica com a matriz. Segue-se o problema decorrente.

Neste modelo de administração, o corpo diretivo deve ser capacitado segundo as técnicas de mercado. Eis a razão de hoje se privilegiar quem detêm diplomas universitários, eis a razão de preferirmos os conceitos filosóficos humanos como caminho para solução dos conflitos íntimos da humanidade, eis a razão de escolhermos neófitos espirituais com doutorados, mestrados e outros títulos similares para posições de liderança na comunidade cristã, em detrimento ao “experiente-velho-ancião-ignorante” (desculpem-me o pleonasmo).

Os neófitos acadêmicos na comunidade cristã conhecem como ninguém o segredo das letras, mas, faltam-lhes maturidade, faltam-lhes experiência de tempo com a vida do jeito que a vida é, faltam-lhes mais tempo de caminhada com eles mesmos, com Deus e com outras pessoas.

Quando não são os neófitos acadêmicos, são os neófitos artistas. Aqueles que tendo obtido algum sucesso em alguma carreira secular, convertem-se ao evangelho e, dentro da comunidade cristã, passam a ser reconhecidos como portadores de dons espirituais que, por incrível que pareça, lhes foram concedidos em sua vida pregressa, tornando-os detentores do direito de exercer liderança nessas comunidades. Na verdade, intrínseco está para a liderança carnal dessas comunidades a relação “astro-carisma-público-dinheiro-sucesso”.

Os neófitos artistas conhecem como ninguém o poder da retórica e da persuasão, mas, faltam-lhes tempo para entender as exigências da nova vida em Cristo, faltam-lhes tempo para amadurecimento com as verdades expostas nas sagradas letras, faltam-lhes terminar a travessia do deserto que separa Egito de Canaã.

Destaque-se que não consideramos qualquer impossibilidade de acadêmicos cristãos e artistas convertidos atuarem como líderes na comunidade cristã. O problema levantado aqui é quanto ao tempo de militância no reino de Deus que inviabiliza o neófito e credencia o prosélito no exercício de funções de liderança na comunidade cristã. Aliás, sendo cristão maduro e experimentado, é melhor tendo qualificação acadêmica e ou dons artísticos que serão úteis nas atividades do Reino de Deus.

Nossas comunidades sofrem hoje as consequências de gestores que, deixando a Bíblia de lado, resolveram administrar igrejas segundo as teorias administrativas e os conceitos filosóficos seculares, colocando em posições de liderança (igrejas, departamentos, grupos, etc) neófitos carismáticos. Enganados pela filosofia humana, encheram seus corações de orgulho e ousaram mudar as verdades administrativas de Deus.

Líderes “neófitos espirituais” que se agarram nas posições de liderança das atuais instituições seculares travestidas de reino de Deus (convenções ou associações de pastores e “igrejas-holding”, por exemplo), permanecem assim pela imposição de alterações estatutárias que impossibilitam a alternância de poder. Quando não, pressionam, manipulam, brigam até as últimas consequências, inclusive utilizando o aparato judicial secular, para manter o comando da organização entre seus descendentes como uma capitania hereditária ou monarquia.

É nítido, está visível há muito tempo que uma “boa briga” neste reino de deus (com “d” minúsculo) tem sempre como pano de fundo dinheiro e poder, puro e simples. Como não vê? A instituição falida e os nababos, periodicamente, viajando para cima e para baixo a fim de participar dos eventos organizados pelos mesmos apenas para distração do, e manutenção no, status-quo. Isto são obras de neófitos ou prosélitos? A soberba os cegou a ponto de não perceberem que destronam Deus quando perdem tempo e dinheiro com coisas menos importantes em detrimento das mais importantes.

Este quadro é apenas a demonstração de como neófitos em cargos de comando transtornam o modelo divino de liderança que deveriam ser preservados pelo povo de Deus. Vale hoje a advertência do Sr. Jesus: Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês” (Mt. 23:15).

Tristes tempos estes, em que velhos neófitos uniformizados de "mestres da lei" e "líderes fariseus" fazem tudo isso e nem se dão ao trabalho de disfarçar. Poderiam, pelo menos, nessas viagens ao redor da terra, fazer um convertido.

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