A Via Dolorosa Que é Ser Pai
Ele
começa com o anseio em sê-lo, e nessa ansiedade, vislumbra a realização do
sonho unindo-se a uma mulher que lhe será ajudadora, idônea, companheira,
aquela cuja existência é determinante para sua realização.
Unido
pelos laços do matrimônio, vive a expectativa da boa notícia. Enquanto alguns
desprezam e outros destroem seus filhos, ele espera ardorosamente pela gravidez
de sua esposa. Durante esta espera, vive um misto de expectativa e insegurança
próprio de um marinheiro em primeira viagem que não sabe seu destino final.
O
sonho se realiza e, enfim, torna-se o pai de uma criatura que, a partir dali,
viverá sob sua proteção e provisão. Embevecido, como um espectador diante de um espetáculo magistral, ele acompanha diariamente cada gesto, cada olhar, cada sorriso e cada som oriundo daquele pequeno ser. Em seu ambiente imaginário, contempla uma
relação exitosa e sem sobressaltos, navegando nas águas tranquilas da relação
pai e filhos.
De repente, fica maravilhado
com o som que se ouve da boca do pequenino, poucas palavras balbuciadas, mas
significantes: “Tata, papa, pá”. A busca dos filhos pequenos pelos
seus dedos, pelas mãos do pai que, agora, efetivamente se vê. Não há história mais
bela, mais prazerosa que um homem possa viver.
Ser
pai é bom... Mas, o tempo não pára e essa história não termina aqui.
As
crianças crescem... O mar se embravece, os ventos começam a soprar com mais
força e sente-se o balançar da nau. Os passarinhos querem voar ao sentir o
vento nas asas, querem pular da árvore de qualquer jeito, sem nem mesmo ter um plano
de voo. E o pai ali, incomodado, meio confuso por não entender porque os filhos querem partir, se desgarrar. Ele sabe que chegará o tempo de voarem, mas, não
os vê prontos - "A precipitação é a marca dos imaturos". Apesar das pequenas asas se abrirem, ele sabe que não tem a resistência necessária para um voo solitário em meio ao temporal existencial. "Voar antes da hora, é quebrar a cara por mais tempo".
E,
então, é preciso ser mais. É preciso fazer frente às ondas que desejam arrastar
nossos filhos para o abismo das incertezas, da falta de limites, da liberdade
irresponsável, da maturidade de araque que engana, confunde e destrói. Agora,
ser pai é mais que glamour, é dor.
Dor
pelas palmadas que aplica e sente, dor pelos constrangedores conselhos “anti-politicamente
corretos” que deve oferecer, dor pelos castigos, pela reprimenda, pela culpa ao
lembrar do seu próprio pai e as dores que lhe causou quando reagiu de modo semelhante.
Agora não tem volta nem possibilidade de correção do passado. É olhar para
frente e seguir.
Seguir
tentando acertar mais e errar menos, evitando conflitos sem fugir da obrigação
(impossível). Viver a turbulenta relação com os filhos adolescentes ou jovens
que não entendem o amor que priva, que limita, que diz: “Não”. E neste
caminhar, sofre...
Sofre
por ver seus filhos tristes, sofre por não poder conceder aos filhos a
liberdade plena sonhada (por sua inexistência), sofre por não poder
compensar-lhes a tristeza com alegrias maiores, sofre por fazer sofrer quem ama
e por quem seria capaz de morrer.
Ser
pai é assim. Tem que viver a vida recebendo como retribuição por sua coragem,
sua dedicação e seu amor, a ambiguidade da ternura e da agressividade, do
carinho e da insensibilidade, da notoriedade e da indiferença. Ser pai é viver
as duas faces de uma mesma moeda: “pai-bom / pai-mau”. Porém, a vida não pára...
Assim
como ele, os filhos crescerão e viverão a mesma experiência, e aí perceberão
que ser pai é “viver a vida no paraíso, sentindo um calor infernal”.
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