Dons Espirituais e Ministeriais
O conhecimento das coisas de Deus é fundamental para seu povo, pois, é este conhecimento que nos imuniza contra o engano, a apostasia e o pecado. Determinados temas, caros na teologia, são importantes porque a ignorância sobre os mesmos dá origem a uma vasta gama de distorções e, porque não dizer, heresias, que interferem no relacionamento com Deus, enganando os de boa-fé e dando terreno a aproveitadores que, a despeito do discurso de ministrar a Palavra de Deus, estão mais interessados no que podem usufruir do povo, materialmente falando.
Em tempos de tanto misticismo misturado com ignorância, o estudo sobre dons espirituais e ministeriais vem suprir nosso povo de conhecimento divino, a fim de estarmos preparados para lutar contra as astutas ciladas do diabo e contra o engano de falsos profetas e profetizas. Eis o assunto a nos debruçar durante os próximos três meses em nossas Escolas Bíblicas Dominicais.
Inicialmente se faz necessário compreendermos o significado de “DOM”. Dom é a capacidade num indivíduo para realização de uma missão ou tarefa. É a habilidade que lhe dá condições de alcançar êxito na execução de uma atividade. Esta capacidade pode ser:
Natural – é a habilidade desenvolvida por uma pessoa desde seu nascimento, impregnado em sua natureza e não adquirida. Diz-se, também, que são habilidades inerentes ao campo de atuação humano, como por exemplo, a capacidade de cantar uma música. Ninguém precisa possuir alta técnica vocal para cantar uma canção ou de dotes sobrenaturais para tal. Isto pode se desenvolver a partir da aptidão natural que a pessoa possui. É por esta razão que algumas pessoas cantam afinadas e outras não.
Sobrenatural – São habilidades recebidas por uma pessoa para o exercício de uma atividade específica que, invariavelmente, é espiritual, como por exemplo, capacidade de falar numa língua ou dialeto que a pessoa nunca aprendeu.
Vale destacar que, a priori, todo dom perfeito, independentemente de natural ou sobrenatural, vem de Deus (Tg. 1:17). Isto implica afirmar que toda habilidade desenvolvida pela humanidade, que expressa perfeição, é uma manifestação da capacidade divina nos homens. Desta forma, quando tratamos de dons, estamos lidando de maneira específica sobre aquelas habilidades que se destacam no universo do comum.
No contexto bíbliconeo-testamentário, o termo dons espirituais refere-se a nove dons dados por Deus aos cristãos, por meio do Espírito Santo, para auxílio na propagação do evangelho de Jesus Cristo e edificação da igreja. Os nove dons são listados na Bíblia, na primeira carta do apóstolo Paulo aos cristãos da igreja de Corinto: “1 Co. 12:8-10 - Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.”
No entanto, há, também relacionados neste contexto, os dons ministeriais, mencionados por Paulo em 1 Co. 12:5 e em Efésios 4:11,12 – “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”
São dons espirituais ou sobrenaturais, que são distribuidos pelo Espírito Santo para edificação e organização da igreja do Senhor. Nossas EBD’s, nos próximos três meses, vai lidar com a análise desses dons.
Não possuímos espaço, muito menos pretensão, de discorrermos sobre todos os pormenores envolvidos nos tópicos mencionados, isto em decorrência da extensão e profundidade do assunto e minha incapacidade de encerrar tema tão complexo e difícil. Porém, vamos destacar alguns pormenores que podem jogar luz ou suscitar o desejo, nos professores e alunos, de perseguir com mais afinco um melhor conhecimento sobre o mesmo.
Os dons aqui tratados são agrupados, inicialmente, em “dons espirituais”, propriamente dito, e “ofícios organizacionais” ou “dons ministeriais”. Veja a distinção que Paulo utiliza em 1 Co. 12:4-6:“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”.
Observe:
1. Quando se reporta aos “dons espirituais” ele destaca ser de um mesmo “Espírito”, ou seja, a essência que permeia todos eles é um só, e o mesmo;
2. Quando se reporta aos “ofícios organizacionais” ele diz que o “Senhor” é o mesmo. Enquanto os dons espirituais são “motivados” pelo Espírito Santo, os ofícios organizacionais são “liderados” pelo Senhor Jesus (A Palavra);
3. Ele diz que esses dons e ofícios estão dentro do conjunto de operações que Deus leva a efeito para revelar-se ao mundo através da Igreja e edificar seu povo.
I. DONS ESPIRITUAIS
Classificação - Os nove dons listados em 1 Coríntios 12:8-10 costumam ser estudados em três grupos distintos:
Dons de revelação (É a capacidade de conhecer ou fazer conhecido):
- Palavra da sabedoria
- Palavra da ciência/conhecimento
- Discernimento de espíritos
Dons de poder (É a capacidade de interferir no curso natural):
- Fé
- Dons de curar
- Operação de maravilhas/milagres
Dons inspiracionais ou dons vocais (É a capacidade de falar de forma sobrenatural):
- Profecia
- Variedade de línguas
- Interpretação de línguas
Vale a pena destacar alguns pontos:
a) As manifestações espirituais não podem, e não estão, isentas do devido amparo bíblico, principalmente no que diz respeito a fornecer conhecimento de Deus ou manifestar o seu poder na realização de um milagre ou maravilha. “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl. 1:8).
b) As manifestações espirituais divinas têm propósitos, e no que diz respeito aos dons espirituais, a Palavra define seus objetivos: deve ser útil para edificar, exortar e consolar o povo de Deus (1 Co. 12:7 e 14:3), e deve contribuir para a unidade do corpo de Cristo (1 Co. 12:13,25).
c) É preciso conhecer a diferença entre ação do Espírito Santo e a reação humana. Muitos cultos atuais são tumultuados, a semelhança do que acontecia em Corinto, em razão de se colocar como ação do Espírito Santo as reações humanas. Grunhidos, rodopios, marchas, “tirar os pés do chão”, são ações meramente humanas que, no decorrer de um culto, apenas causa confusão e retira o brilho da celebração diante de Deus.
d) Merece atenção e cuidado as pseudos “novas unções” tão em moda nos dias atuais. Não há, entre os dons mencionados na Bíblia, um que seja específico para conceder “novas unções”. Quando a Bíblia fala de “ungir” alguém, se refere a ação do ministro de Deus quando em oração por um enfermo (Tg. 5:14; Mc. 6:13), ou quando alguém é separado para o exercício de um reinado ou sacerdócio (1 Sm 16:3; Lv. 8:12).
Os dons espirituais se caracterizam pela ação direta do Espírito Santo na vida do crente, transformando-o apenas e tão somente num instrumento utilizado por Deus para manifestação de seu conhecimento e poder. Por esta razão, estes dons são, exclusivamente, divinos, pois, é a ação do próprio Deus na igreja e no mundo.
II. OFÍCIOS ORGANIZACIONAIS OU DONS MINISTERIAIS
A igreja do Senhor prescinde de uma mínima organização para que sua missão seja plenamente atendida. Ela deve conquistar pessoas para Deus, implantar comunidades para que essas pessoas se reunam e, reunidas, sejam ensinadas no conhecimento do Senhor e apoiadas em sua caminhada eterna. Sendo assim, se faz necessário o mínimo de organização em suas atividades que possibilite o atendimento as variadas demandas que surgem a partir de sua implantação.
É a partir dessas atividades que os ofícios organizacionais são definidos. Efésios 4:11,12 – “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;”
Ofícios Organizacionais são atividades desenvolvidas na obra de Deus para o qual Ele designa pessoas cheias do Espírito Santo com intuito de desenvolver seu reino na terra, cuidando e edificando seu povo.
No que diz respeito aos dons ministeriais, algumas considerações são necessárias.
- Estes dons nunca foram reduzidos a títulos, como alguns "apóstolos" ostentam nos dias atuais. Era, na verdade, designativo da função que exerciam;
- Na igreja primitiva os cargos Bispo, Ancião e Presbíteros são iguais. Isto pode ser verificado claramente em At. 20:17,28.Aqui neste texto o apóstolo Paulo chama os anciões de bispos.Em Tt. 1:5-7, ele chama os presbíteros de bispos.
- A igreja não concede estes dons ou ofícios. Ela apenas reconhece o dom ou chamada que o servo do Senhor possui (Mt.. 9:38).
- Quando o apóstolo Paulo, em 1 Tm. 3:1, diz que “quem deseja o episcopado excelente obra deseja”, não estar incentivando os cristãos a desejarem, ou cobiçarem, cargos maiores. Se este tivesse sido o alvo de sua orientação, ele estaria em atrito com o que o Mestre Jesus nos ensinou (Mt. 18:4; 20:25-28). O que Paulo está sinalizando é para a “obra” do bispo. A ênfase dele é sobre as tarefas que o bispo desenvolve e não sobre o título designativo da função (ver Lc. 4:18,19). A Palavra de Deus recomenda à todos, especialmente aos que possuem chamadas, que mantenham uma vida de humildade (Ef. 4:2; At. 20:19; Cl. 3:12; Fp. 2:3;1 Pe. 5:5).
Recomendo a leitura de outro post publicado neste espaço: Porteiro, Auxiliar, Diácono...
CONCLUSÃO
“Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam ignorantes” (1 Co. 12:1).
O obscurantismo não é ferramenta de uso de Deus. O Senhor deseja que os seus servos conheçam o funcionamento do Seu reino e tenham plena compreensão dos seus projetos e a forma como é organizada a igreja. O alvo do Senhor é uma igreja em pleno crescimento, não apenas em quantidade, mas, principalmente, em qualidade.
Apesar de ser assunto eminentemente espiritual, os servos de Cristo são instruídos a fim de não ficarem sujeitos a invencionices, ventos de doutrina ou falácias, assegurando o desenvolvimento do povo de Deus com segurança, determinação e abnegação.
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