Para Que Serve Uma Reunião?

(O Que Aconteceu Com a Assembleia de Deus na Bahia - Parte XII)

Ao longo da minha história, infelizmente, presenciei alguns maus comportamentos daqueles que deveriam ser exemplos para mim. No princípio da minha fé, tendo adquirido uma boa formação espiritual, forjado na Escola Bíblica Dominical e nos ensinos recebidos de meus pais e de bons pastores, sempre me afastei dos lugares e reuniões em que não fosse solicitado estar. Aprendíamos e, em razão disto, sabíamos o que era ser ético, íntegro e discreto.

Porém, um dia, por “força do destino”, quando instalava equipamento de som para o Coral da Mocidade, durante uma Convenção, tive minha atenção atraída por palavras duras e ríspidas vindas de uma reunião ministerial realizada na parte da tarde. Assustei-me. Custou-me acreditar que aquela era a forma de debater e resolver os problemas normais da organização, por parte dos chamados “representantes de Deus”. Nos meus sonhos, hoje, “infantis”, acreditava que para solução de problemas e/ou escolha de pares ministeriais, as discussões fossem em tom ameno e respeitoso, após consulta divina, através da oração, e a conclusão aceita por “todos” como vontade de Deus (At. 1:26). Ledo engano.

Vi ali os primeiros sinais de deterioração. Notei a semelhança entre a política secular e a sacra. Percebi que, pelos princípios estabelecidos na Bíblia, aquele era um mau exemplo, e estava contribuindo para enterrar de vez, a possibilidade de carreira ministerial para mim. Não queria participar daquilo. Ainda no ponto de ônibus para retornar à minha residência, pedi à Deus: “Se é para esse lugar que queres me trazer, por favor, não faça isso comigo.”

Ainda assim, prosseguir nos serviços que estava envolvido, pelos companheiros que tinha: Danilo, Agnaldo, Edmício, Admilson, Levi, Jorge, Nilda, Jaime e Zete, Gideão, Joabe, Enoque, Jeruza, dentre outros, e pela esperança nascida naqueles dias de que, “se não podemos mudar o topo, mudemos a consciência da base, pois é a única forma de desalojarmos o topo ruim, apesar do resultado só ser colhido a longo prazo” (o problema dessa idéia é que, em se tratando de assembleanos, só em looonnnggguuuííísssiiimmmooo prazo, talvez, um milênio inteiro, com um ensino claro, livre de preconceitos e dogmas humanos).

Foi nesse período que ouvir um sermão do Pr. Joel Ribeiro. Ensino restrito a Palavra de Deus, sem insinuações, apelações e terrorismo espiritual; sermão didático e com conteúdo. Imaginei que, talvez, nem tudo estivesse perdido. Alimentei minha alma combalida com as orientações abalizadas e sábias desse Pastor, e ao longo da convivência, vi o testemunho de um homem que, apesar de sofrido e maltratado pelo clero que ele mesmo fazia parte, prosseguia perseguindo o cumprimento da vocação sincera.

Para se ter uma idéia da sua postura, foi o único pastor em toda minha vida assembleana que foi em minha casa, várias vezes, procurar saber como estava. Foi este testemunho que me deu energia para prosseguir. Quem conhece o que é bom, jamais trocará pelo que é ruim. Conheci outros bons Pastores e Presbíteros, que não vou citar os nomes para não cometer a injustiça de esquecer alguém. Gente cultivada em boa terra, resultado de ter abrigado com bom coração a boa semente. Safra boa.

Toda igreja, além de representar o Corpo espiritual de Cristo, é uma instituição onde as pessoas se reúnem com fins definidos e comuns, ensejando um mínimo de ordem para que funcione adequadamente.

A Assembléia se organizou ao longo do tempo, utilizando-se do sistema piramidal, ou seja, ampliando constantemente sua base de influência, e centralizando seu controle. Desta forma, estabelece o poder senhorial na pessoa do seu Presidente, apoiado por uma Diretoria inócua e ilegítima, já que, a forma colegiada com que escolhe seus membros, inclusive o Presidente, acabam por tirar legitimidade dos que a compõem.

Na escolha do Presidente e da Diretoria, apenas o Presbitério é convocado para “avalizar” a nomeação já acertada anteriormente com os Pastores e, na maioria das vezes, a chapa apresentada é única, e não tem, nem o Presbitério, nem a Assembléia Geral, a menor possibilidade de discussão e/ou indicação de alternativas. Além disso, a aprovação é realizada por aclamação simples, do tipo: Existe alguém contra a indicação? Fique em pé quem for contra. Chapa aprovada! Isto tudo realizado em fração de minuto, sem nenhuma ponderação, nem definição de objetivos claros. Estamos brincando de fazer coisa séria.

Nas poucas vezes que participei dessas reuniões, sai com a impressão de que nossa presença ali era dispensável. Sentir-me desrespeitado e agredido na inteligência que nos faz “imagem e semelhança de Deus”. Não via, por parte da liderança, nenhuma vontade de melhoria do sistema, pelo contrário, apenas a preocupação na manutenção do “status quo”, mesmo sem produzir resultados organizacionais que respaldem a continuidade. Pra mim é estranho ouvir pastores falando em humildade quando eles insistem em se agarrar nas altas posições que ocupam de qualquer maneira.

Com este tipo de conduta, o corpo diretivo fomenta o surgimento de insubordinados. Superintendentes que, à revelia da direção, se lançam a praticar todo tipo de arbitrariedade e ensinar todo tipo de heresia aos seus congregados e membros. Ensinando vontade própria como vontade de Deus, enxergam pessoas como números, multiplicando por dez. Presunçosamente, idealizam alcance dos primeiros lugares nas listas de contribuições, pretendendo serem vistos como promotores de sucesso, usurpando para si uma glória que não lhes pertence.

Líderes forjados na bajulação, na meninice e na falta de visão de quem os conduzem pelas mãos a fim de serem consagrados para obra de Deus. Gente despreparada, desesperada e preguiçosa, que se sentem confortáveis no comodismo, na própria letargia e no terrorismo espiritual que trata as ovelhas sob seus cuidados.

É este tipo de gente que enche a cabeça do pastor com a idéia de transformar uma casinha que ele viu com placa de “aluga-se”, em uma congregação, onde, obviamente, ele será o pastor. É esta a maneira que se cria, forma e estrutura “mais uma congregação da Assembléia de Deus”. Exatamente por isso, temos a maioria de nossos templos funcionando na ilegalidade. Para comprovar isto, basta consultar as exigências impostas pela legislação pertinente para se abrir uma igreja, comparando com os itens atendidos pela direção da nossa denominação na abertura dos mais de quatrocentos templos só em Salvador.

Aliás, quanto a isso, dizem alguns: “se fôssemos observar o regulamento, não existiria igreja funcionando” ou, “todas as igrejas são assim” ou, “funcionar do jeito que a norma determina, é impraticável”. O que é, no mínimo, engraçado, é a exigência para o candidato a qualquer função eclesiástica, de não ter seu nome inscrito nos órgãos de restrição ao crédito e bons antecedentes (não imaginem que sou contra a exigência, estou apenas chamando atenção para a incoerência).

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