Coisas Que Até um Ateu Pode Ver
Pela relevância do assunto, não resistir ao desejo e necessidade de republicá-lo aqui. Trata-se de críticas ao evolucionismo de Charles Darwin. É um texto grande, mas, vale a pena ler até o fim.
(O Pr. Presbiteriano Augusto Nicodemos Lopes é Mestre e Doutor em Interpretação Bíblica, Professor de Exegese, Bíblia e Pregação Expositiva. Exerce a função de Chanceler da Universidade Presbiteriana Marckenzie).
- Postado por Augustus Nicodemus Lopes em http://www.tempora-mores.blogspot.com.br/ -
Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em
anos recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias
sobre a capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da
vida e sua complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou
aleatória das mutações genéticas necessárias para tal.
Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual ateísta da
Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua desconversão
do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências de propósito
inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular James Shapiro,
da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o livro Evolution:
A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente a evolução
darwinista.
Thomas Nagel |
E agora é a vez de Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da
Universidade de Nova York, membro da Academia Americana de Artes e Ciências,
ganhador de vários prêmios com seus livros sobre filosofia, e um ateu
declarado. Ele acaba de publicar o livro Mind & Cosmos (“Mente e
Cosmos”) com o provocante subtítulo Why the materialist neo-darwinian
conception of nature is almost certainly false (“Por que a concepção
neo-darwinista materialista da natureza é quase que certamente falsa”), onde
aponta as fragilidades do materialismo naturalista que serve de fundamento para
as pretensões neo-darwinistas de construir uma teoria do todo (Não pretendo
fazer uma resenha do livro. Para quem lê inglês, indico a excelente resenha
feita por William Dembski e o comentário breve de Alvin Plantinga).
Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por que quando
intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à evolução
darwinista são descartados por serem "religiosos". Então, tá. Mas, e
quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?
Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro
que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista
da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de
explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a
possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz
de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas
e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre
existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo
admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo
materialista do darwinismo.
Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria análise
científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos acadêmicos:
“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa
crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a
evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não
exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste
assunto” (p. 7).
“Eu tenho consciência de que dúvidas desta natureza vão parecer um
ultraje a muita gente, mas isto é porque quase todo mundo em nossa cultura
secular tem sido intimidado a considerar o programa de pesquisa reducionista
[do darwinismo] como sacrossanto, sob o argumento de que qualquer outra coisa
não pode ser considerada como ciência” (p.7).
Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o fundamento do
evolucionismo darwinista:
“Mesmo que o domínio [no campo da ciência] do naturalismo materialista
está se aproximando do fim, precisamos ter alguma noção do que pode
substitui-lo” (p. 15).
Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da vida, menos
plausível se torna a explicação naturalista materialista do darwinismo para sua
origem e desenvolvimento:
“Durante muito tempo eu tenho achado difícil de acreditar na explicação
materialista de como nós e os demais organismos viemos a existir, inclusive a
versão padrão de como o processo evolutivo funciona. Quanto mais detalhes
aprendemos acerca da base química da vida e como é intrincado o código
genético, mais e mais inacreditável se torna a explicação histórica padrão [do
darwinismo]” (p. 5).
“É altamente implausível, de cara, que a vida como a conhecemos seja o
resultado da sequência de acidentes físicos junto com o mecanismo da seleção
natural” (p. 6).
Não teria havido o tempo necessário para que a vida surgisse e se
desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações aleatórias:
“Com relação à evolução, o processo de seleção natural não pode explicar
a realidade sem um suprimento adequado de mutações viáveis, e eu acredito que
ainda é uma questão aberta se isto poderia ter acontecido no tempo geológico
como mero resultado de acidentes químicos, sem a operação de outros fatores
determinando e restringindo as formas das variações genéticas” (p. 9).
Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais conhecidos do design
inteligente:
“Apesar de que escritores como Michael Behe e Stephen Meyer sejam
motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos empíricos
que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história evolutiva serem
explicados plenamente somente com base na física e na química são de grande
interesse em si mesmos... Os problemas que estes iconoclastas levantam contra o
consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério. Eles não merecem a
zombaria que têm recebido. É claramente injusta” (p.11).
Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe falta o
sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:
“Confesso um pressuposto meu que não tem fundamento, que não considero
possível a alternativa do design inteligente como uma opção real – me
falta aquele sensus divinitatis [senso do divino] que capacita – na
verdade, impele – tantas pessoas a ver no mundo a expressão do propósito divina
da mesma maneira que percebem num rosto sorridente a expressão do sentimento
humano” (p.12).
Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão materialista e
naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende o mundo
material, como a mente e tudo que a acompanha:
“Nós e outras criaturas com vida mental somos organismos, e nossa
capacidade mental depende aparentemente de nossa constituição física. Portanto,
aquilo que explicar a existência de organismos como nós deve explicar também a
existência da mente. Mas, se o mental não é em si mesmo somente físico, não
pode, então, ser plenamente explicado pela ciência física. E então, como vou
argumentar mais adiante, é difícil evitar a conclusão que aqueles aspectos de
nossa constituição física que trazem o mental consigo também não podem ser
explicados pela ciência física. Se a biologia evolutiva é uma teoria física –
como geralmente é considerada – então não pode explicar o aparecimento da
consciência e de outros fenômenos que não podem ser reduzidos ao aspecto físico
meramente” (p. 15).
“Uma alternativa genuína ao programa reducionista [do darwinismo] irá
requerer uma explicação de como a mente e tudo o que a acompanha é inerente ao
universo” (p.15).
“Os elementos fundamentais e as leis da física e da química têm sido
assumidos para se explicar o comportamento do mundo inanimado. Algo mais é
necessário para explicar como podem existir criaturas conscientes e pensantes,
cujos corpos e cérebros são feitos destes elementos” (p.20).
Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se a mente
existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se tornado
na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E aqui ele
cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado renomado:
“O evolucionismo naturalista provê uma explicação de nossas capacidades
[mentais] que mina a confiabilidade delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo”
(p. 27).
“Eu concordo com Alvin Plantinga que, ao contrário da benevolência
divina, a aplicação da teoria da evolução à compreensão de nossas capacidades
cognitivas acaba por minar nossa confiança nelas, embora não a destrua por
completo. Mecanismos formadores de crenças e que têm uma vantagem seletiva no
conflito diário pela sobrevivência não merecem a nossa confiança na construção
de explicações teóricas do mundo como um todo... A teoria da evolução deixa a
autoridade da razão numa posição muito mais fraca. Especialmente no que se
refere à nossa capacidade moral e outras capacidades normativas – nas quais
confiamos com frequência para corrigir nossos instintos. Eu concordo com Sharon
Street [professora de filosofia na Universidade de Nova York] que uma
auto-compreensão evolucionista quase que certamente haveria de requerer que
desistíssemos do realismo moral, que é a convicção natural de que nossos juízos
morais são verdadeiros ou falsos independentemente de nossas crenças” (p.28).
Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia diz:
"Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade
no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o
princípio até ao fim" (Eclesiastes 3:11).
"De um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a
face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites
da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam
achar, bem que não está longe de cada um de nós" (Atos 17:26-27).
Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é o reflexo da
imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos. Infelizmente
o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência, tateando, já
tocaram.
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