Afastem-se! Iníquos.


“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha (Mt. 7:21-24).

No texto em apreço, Jesus chama a atenção para uma surpresa que acontecerá quando estivermos ingressando no seu Reino. Alguns, imaginando estar com a “bola toda”, serão barrados por Cristo com a justificativa de completo desconhecimento.

Eles se imaginavam conhecidos do Senhor por causa da prática de atos espirituais e religiosos, e por terem, aparentemente, obtido sucesso (Oh! Como o resultado engana). Cristo, por sua vez, lhes dirá que seu desconhecimento em relação a eles é em decorrência da prática da “iniqüidade”.

Pela importância no texto, precisamos entender o significado de “iniqüidade”.

Iniqüidade vem do Grego: ανομια [anomia] (Substantivo feminino). De ανομος [anomos] (α [a] - como uma partícula negativa - "sem"), e νομος [nomos] "lei" = "sem lei". Negação da lei. Ilegalidade, falta de conformidade com a lei, violação da lei, desacato à lei [1].

Iníquo é todo aquele que não observa a norma posta, a lei estabelecida. São aqueles que vivem sob seus próprios argumentos, fundamentados em seus próprios princípios. São, na verdade, “anárquicos”. Não se submetem, nem se limitam por nenhuma lei, mesmo conhecendo-as. Especificamente, Cristo chama de iníquos os que não observam os princípios cristãos estabelecidos nas Sagradas Escrituras.

No contexto aprendemos que Jesus não poderia estar se referindo a Bíblia como a conhecemos, pela simples razão de não existir. Naquela época, as referências que se faziam as Escrituras eram a Lei de Moisés e os ditos dos profetas. Podemos deduzir, então, como gostam os observadores da lei mosaica nos dias de hoje, que Jesus considerava iníquos aqueles que não observavam a Torá.

Esta compreensão é enganosa, pois, em nenhum lugar no ensino de Jesus registrado por Mateus, ele reforça a observância dos ritos judaicos, ou da guarda de dias especiais, ou festas religiosas. Lembremos que Mateus era judeu. Se Jesus tivesse enfatizado os ritos, certamente Mateus teria registrado.

Vamos melhorar nossa compreensão atentando para uma regra exegética bem conhecida. Não posso retirar o versículo vinte e três (v.23) do capítulo sete (c.7) do evangelho de Mateus, que integra um maravilhoso conjunto de ensinos de Cristo, para aplicá-lo a outro texto, a fim de justificar o que penso e o que quero que outros acreditem. Se assim o fizer, estarei praticando a “eisegese”, percebendo minha doutrina e não a doutrina divina.

Outra perspectiva a ser observada é que, no próprio texto de Mateus, capítulo sete (c.7), o Filho de Deus relaciona uma série de ordenanças, e reforça, no versículo vinte e quatro (v.24) que, Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica...” Logo, manda o bom senso e a exegese, que Ele se referia ao conjunto de normas que terminava de extrair dos princípios divinos.

Ainda, pelas normas mencionadas por Cristo, podemos lembrar qual era a lei que não podemos deixar de observar, sob pena de nos tornarmos iníquos e deixarmos de entrar no Reino de Deus. Em Mateus, capítulo vinte e dois (c.22), um fariseu perguntou para o Senhor qual era o grande mandamento. Jesus responde: “Amar a Deus acima de todas as coisas”. Sem perder a chance de esclarecer as implicações disto, Ele acrescenta: “Outro mandamento semelhante a este é: amar ao próximo como a ti mesmo” (v.39). Finalmente, arremata: “Destes dois mandamentos dependem toda lei e os profetas” (v.40), ou seja, cumpra estes dois mandamentos e você cumpre todo o ordenamento de Moisés (Torá) e as recomendações dos profetas.

Estando claro o significado de “iniqüidade” no texto destacado no início deste post, alertamos sobre a necessidade de vivermos a nossa vida cristã com o amparo das normas divinas especialmente destacadas por Cristo. Afinal, não adianta estabelecer o que acreditar e o que não acreditar, quando Cristo nos orienta sobre o que acreditar. Não adianta estabelecer o que cumprir e o que não cumprir, quando Cristo já relacionou o que devemos fazer.

Se militarmos na vida cristã entrando por este caminho, ganharemos o mundo todo, mas, perderemos a nossa alma (Mc. 8:36). Para entrar no Reino de Deus, tem que ser conhecido de Cristo. Ser conhecido de Cristo significa ser “amigo” dEle. Ser “amigo” dEle é fazer o que Ele nos orienta (Jo. 15).

Se não concorda com Cristo? Ok. Você tem todo direito, pelo livre-arbítrio que Deus lhe deu. Contudo, neste estado, você será um completo desconhecido dEle. Sendo assim, não serás recebido por Ele naquele dia.

Reflita melhor e, se quiser evitar constrangimentos, ouça-o batendo em sua porta “hoje” (Ap. 3:20), antes que venha o dia em que você baterá, mas, a porta não poderá mais ser aberta (Mt. 25:10-12).

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