Quem é Você Neste Tribunal?

Porque é difícil mudar? Porque estamos mais ocupados em mudar os outros do que mudar a nós mesmos.

Achamo-nos no direito de consertar o outro, achamos que conhecemos o método que nos conduz a perfeição e que o outro precisa adotar este modelo infalível. Na verdade, estamos aprisionados num redemoinho de cobranças que angustia, amedronta e incapacita o outro e a nós mesmos. Somos operadores de coisas produtivas, corretas e boas, sim, porém, o equívoco estar em achar que estamos acima do outro, capacitados e empoderados para cobrá-los indiscriminadamente.

Meu erro pode ser o acerto do outro, da mesma forma que o meu acerto pode ser o erro do outro. Cada ser humano, em toda sua capacidade e incapacidade, erros e acertos, é apenas cópia do outro. A diferença consiste no que cada um fez com as oportunidades que a vida concedeu. Nota-se que o benefício da existência estar em cooperar com o seu semelhante, absorvendo desta relação o bem que o outro pode oferecer e lhe dando o bem que você pode oferecer ao outro. Infelizmente, como somos portadores do bem e do mau, alguns escolhem oferecer ao outro a destruição, a dor, o infortúnio, o mau.

Como bem disse Deus: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração" (Lc 6:45).

O fato objetivo é que, nesta relação, sou responsável pelas “minhas” atitudes em relação ao outro, e quando lhe cobro melhorias, estou apenas exercendo um direito que não tenho. Isto não significa, necessariamente, concordar com o mau facilmente detectável nas atitudes de outrem (Deixe, e cobre, as autoridades legalmente constituídas para este fim). Apenas reforça a necessidade de estarmos vigilantes quanto as mesmas obras más que praticamos ou que, potencialmente, podemos praticar. Invariavelmente, as mesmas obras más são praticadas por todos, sejam por atitudes, palavras, pensamentos ou intenção de coração.

Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando você mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus?” (Rm 2:1-3).

Certa vez um irmão me perguntou: Sabe porque Deus deu uma vida a cada um? Ato seguinte, respondeu. “Pra cada um cuidar da sua!”

Não nos é permitido abandonar o sentido do existir social. A cooperação, a misericórdia e a solidariedade é o objetivo de se viver ao lado de um outro semelhante, estendendo a mão, oferecendo o ombro, os ouvidos, a paciência e o perdão. Quando não compreendemos nosso papel na inter-relação com outro, nos tornamos sal insípido, candeeiro apagado, carga invés de motor.

Neste mundo de Deus, somos movidos pelo que acreditamos. Na Bíblia Sagrada, os princípios, os valores e as recomendações de como se portar e viver a relação com seu semelhante. Todavia, apesar dos limites impostos pela própria Palavra, os homens se apoderaram dela e de seu “Deus”. Com livres interpretações de seu texto sagrado, construíram e consolidaram impérios e calabouços. Se tornaram grandes organizações religiosas, que trazem debaixo de um jugo pesado seus religiosos de carteirinha, ensinando-os a julgar, condenar e corromper o sagrado caminho do evangelho.

Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque devorais as casas das viúvas e, para disfarçar, encenais longas orações. E, por isso, recebereis castigo ainda mais severo! Ai de vós, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Porque viajais por mares e terras para fazer de alguém um prosélito. No entanto, uma vez convertido, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós!“ (Mt 23:14,15).

Os chamados “homens de Deus” nestes tempos pós-modernos, abandonaram sua missão mais nobre de solidariedade e misericórdia, deixaram de lado sua relação direta com Deus, esqueceram o sentido do existir da igreja e se tornaram “pedra de tropeço” na caminhada piedosa dos que tentam desfrutar da graça infinita e incondicional. Fazem parte de organizações religiosas que aprisionam mentes e corações. Cooptados por Mamom, são conduzidos por semi-deuses, devendo-lhes obediência servil e culto vitalicio, adorando-o em sua presença e esculpindo-o em imagem e escultura.

"Há ímpios no meio do meu povo: homens que ficam à espreita como num esconderijo de caçadores de pássaros; preparam armadilhas para capturar gente. Suas casas estão cheias de engano, como gaiolas cheias de pássaros. E assim eles se tornaram poderosos e ricos, estão gordos e bem-alimentados. Não há limites para as suas obras más. Não se empenham pela causa do órfão, nem defendem os direitos do pobre” (Jr 5:26-28).

Por fim, e apesar deles, nossa relação com o próximo deve ser de mais edificação e menos destruição, mais apoio e menos incompreensão, mais afeto e menos agressividade, mais misericórdia e menos julgamentos, mais amor e menos ódio. Talvez não mudemos o mundo, mais, podemos viver num mundo melhor.

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