Os Vendilhões do Templo

“Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém. No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas e virou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: "Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!"” (Jo. 2:13-16).

Os vendilhões do templo vivem negociando coisas e, quando não tem o que oferecer, vivem assentados diante de mesas trocando dinheiro. Todo esforço dessa gente se resume em negociar produtos e mexer com dinheiro. Os vendilhões do templo não estão preocupados com a possibilidade de faltar elementos para o culto (bois, ovelhas e pombas), estão interessados apenas em ganhar dinheiro. É a mesma figura de hoje, quando muitos envolvidos com o cristianismo estão mais preocupados com sua manutenção pessoal do que com a falta de “mantimentos na casa do tesouro”. Em nossos templos atuais não há recursos na tesouraria para evangelismo, missões, ação social e escolas bíblicas (tudo depende de uma oferta extra), porém, não falta para distribuição nas mesas.

Os vendilhões modernos até pregam, mas, pensando no dinheiro; até dirigem igrejas, mas, considerando o dinheiro que arrecadarão; sua preocupação não são as pessoas, mas, sim, a pecúnia. Eles gostam de organizações religiosas (como os fariseus), por isso, brigam e defendem convenções, associações e denominações empresariais com unhas e dentes. Quando criticados por receberem altos salários das igrejas, questionam: “Quem vai cuidar de nós e de nossas famílias no futuro?” Respondo: “Vocês mesmos”. De que jeito? Da mesma maneira que os demais, cujo trabalho com suas próprias mãos sustentam suas famílias e cuidam do futuro de seus filhos. Aprendam uma profissão e conquistem um emprego ou um trabalho. Se os outros conseguem, porque os “generais da religião” não? Percebam que os outros, reles mortais (muitos, inclusive, oficiais de baixa patente na igreja), além de sustentar sua família ainda encontram um jeito de depositar dízimos e ofertas para manutenção da casa do Senhor e cumprirem sua missão espiritual. Milagre? Não! Trabalho! Coragem!

Querem ver uma revolução no meio das igrejas cristãs [com as raríssimas exceções de praxe]? Tirem o dinheiro da equação. Todos os envolvidos, digo “todos”, deveriam buscar seu sustento e de sua família em uma profissão (como apóstolo Paulo – At. 18:2-3; 1 Ts. 2:9; 2 Ts. 3:7-12), e todo, repito, “todo” dinheiro arrecadado em igreja deveria ser revertido para pagamento de suas despesas estruturais físicas, para desenvolvimento de trabalhos sociais (Tg. 1:27; At. 2:44-47) e para promoção de sua missão espiritual. A mão de obra utilizada deveria ser voluntária, filantrópica, exatamente como a maioria dos cristãos sempre fizeram.

Aí sim, veríamos aqueles que, verdadeiramente, foram chamados e aceitaram cumprir uma missão divina entre nós. Fora isso, nada mudará, pois, quando nos guiamos por Mamom (o deus-dinheiro), nossos pés irão apenas onde o dinheiro nos permite ir [pregaremos apenas em catedrais e não nas favelas], falaremos apenas o que o dinheiro nos permite falar [jamais ousaremos falar daquelas coisas bíblicas que confrontam a insensibilidade dos poderosos e as máscaras dos fariseus], nossas ações terão o cuidado de não mexer na estrutura que está posta para não contrariar o monarca da vez, evitando assim que, por sua vez, ele não nos impeça de voltar para pregar em sua “catedral”.

"Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós." É por isso que Jesus disse ser impossível servir dois senhores (Lc. 16:13).

Assim estamos. Igrejas cristãs permeadas por gente dependente da prebenta do mês recebidas a custas das viúvas, dos órfãos e dos trabalhadores-escravos que eles deveriam ajudar. Gente cheios de títulos e vazios do compromisso com Deus, gente que prefere ser sustentado por um sistema que espolia outros pobres invés de buscar o sustento pessoal com suas próprias mãos de forma que lhe permita, inclusive, se somar aos outros na missão de ajudar “viúvas e órfãos” (Ef. 4:28), gente que fala tanto em depender de Deus, mas, na verdade, dependem é do dinheiro que arrecadam dos pobres que se reúnem em torno de Cristo.

Não são chamados por Deus, pois, Deus não instituiu o “ministério dos vendilhões do templo”. Ao contrário. O senhor, com um chicote de cordas, os expulsou de lá. Deus chamou trabalhadores para sua seara. Ah, aqueles obreiros antigos, simples em suas vestes, puros em seus corações e fiéis em sua missão sacrificial. Eu vi e acompanhei gente assim. Obreiros dedicados e integralmente envolvidos em sua tarefa espiritual, ao mesmo tempo em que labutava para conquistar o “pão nosso de cada dia” para sua casa. Gente abençoada! Gente corajosa! Gente de alto nível moral e ético (no sentido do exposto no texto)! Gente que com sua envergadura espiritual mostrava muito claramente a diferença entre trabalhadores da seara e vendilhões do templo.

Os modernos vendilhões do templo não vendem bois, ovelhas e pombas, vendem uma imagem, vendem ilusão, vendem sensações e, desse jeito, formam novos vendilhões. O círculo vicioso permanece, até que um dia...

Jesus aparece, e com um chicote de cordas nas mãos, arrebentará com suas mesas e com seus negócios. Aguardem.

Minha casa é casa de oração, não um covil de ladrões” (Jesus em Mateus 21:13).

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